RAEL MENDONÇA
Toque cromático - pintura a óleo sobre tela de toque eletrônica (2022)
As pinturas digitais fazem cada vez mais parte do mundo contemporâneo e a sua introdução na era digital já está consolidada. Usando as duas técnicas na mesma pesquisa, reuni-las fisicamente pode fornecer uma nova perspectiva para pintura em telas touchscreen.
Enquanto a pintura a óleo celebra a tradição artística e o valor do trabalho manual, a pintura digital exalta a versatilidade da tecnologia e a capacidade de criar representações altamente detalhadas e dinâmicas. Enquanto um atrai o espectador com as suas texturas sensoriais e incita-o a conectar-se com a arte a um nível mais tangível, o outro fascina com a sua precisão científica e potencial interactivo.
A forma como estas duas formas de expressão se unem pode levar-nos a uma reflexão mais profunda. Ao conectar pinturas tradicionais e digitais de neurônios, somos convidados a contemplar a dualidade: a síntese da arte, que é etérea e imaterial, com o mistério da ciência, que é concreto e tangível.
Esta série de pinturas une o analógico e o digital, o artístico e o científico, para criar uma reflexão sobre as técnicas e aproximá-las. A intersecção entre a imaginação humana e a inovação tecnológica permite novos horizontes de compreensão e criatividade.
Trabalhando no atelie – esculturas (2018)
AMEAÇA - 2023
Em meio às cinzas que restam, a ameaça avança gradativamente. Embora não se perceba de perto a fumaça e a destruição causada pelo desmatamento, muitos ainda questionam se isso é real.
Na série AMEAÇA | Sinapses Botânicas, conexões visuais experimentais que correlacionam diferentes estruturas, do micro ao macro, entre: neurônios, células cerebrais ramificadas que realizam a sinapse, possibilitando a inteligência, o pensamento e a linguagem; os estômatos, microestruturas ovais presentes na epiderme das plantas e árvores, responsáveis pelas trocas de gases no ambiente e pela evapotranspiração (transferência da água do solo para o estado de vapor), que são de grande importância para o ciclo hidrológico. Em contrapartida, a representação visual de incêndios, desastres ambientais que afetam gravemente o nosso bioma, contribuindo para os efeitos do aquecimento global, poluição do ar, doenças respiratórias e perda de biodiversidade.
Através da arte a transformação pode acontecer com o reflorestamento de ideias e percepções, pois nossa imaginação possibilita novas conexões entre a mente e a natureza, com um objetivo principal: a consciência de nossas ações.
Podemos ramificar-nos em união com a natureza. Nós fazemos parte disso.
Expressões rizomáticas - instalação (2020)
Os galhos pendentes, em sua estrutura desordenada e fluida, representam informações dispersas no mundo contemporâneo. As páginas dos livros, quando reunidas nesse rizoma, simbolizam o processo de transformação da informação em conhecimento, por meio da reflexão, compreensão e conexão entre ideias.
Cada galho suspenso serve de suporte para diversas páginas de livros dispostas como folhas soltas, destacando-se como janelas para o conhecimento. As páginas contêm trechos de diversas obras, abordando temas diversos, como ciência, filosofia, história e arte. Essa mistura de informações representa a riqueza e a pluralidade do conhecimento humano.
A instalação artística de ramos pendurados nas páginas dos livros é uma ode ao poder do conhecimento e à beleza da interligação entre ideias. Ela enfatiza a importância da reflexão e da comunicação como forças motrizes na expansão do conhecimento humano.
Estruturas ramificadas no
corpo humano: neurônios, íris e pulmão -
instalação com ferramentas de gravação e peças de matriz
Nos veios da madeira talhada, a arte emerge em gravuras profundas e evocativas. Nesta harmonia entre mente e matéria, as linhas gravadas entrelaçam-se como ramificações neuronais, pulmões e íris.
Os pulmões, órgãos vitais da respiração, encontram a sua expressão artística nas curvas da madeira esculpida. As ranhuras gravadas lembram vias aéreas, capturando o fluxo constante de ar que sustenta a nossa existência.
Nesta fusão entre arte e anatomia, a xilogravura transcende a simples representação visual. Torna-se um eco da vida orgânica, um convite para explorar os intrincados mecanismos que nos mantêm vivos e conectados ao mundo que nos rodeia.
Raízes cerebrais - escultura/instalação (2018)
O corpo deitado parece emergir da terra, como se fosse uma extensão das raízes que se entrelaçam abaixo da superfície. As formas suaves da argila transmitem uma sensação de fluidez e crescimento, enquanto os contornos se entrelaçam num sentido orgânico, imitando a forma como as raízes se estendem e se aprofundam na sua busca por nutrição e suporte.
No entanto, a escultura não se limita a uma mera representação da natureza. À medida que os nossos olhos percorrem a figura, somos guiados para uma região que ressoa com a complexidade do intelecto humano. O topo da cabeça se abre para uma intrincada rede de cristas e cristas, que lembra a topografia de um cérebro humano.
Acima da escultura, uma árvore suspensa compõe o ambiente da instalação e sugere uma relação com a forma esculpida.
registo de instalação imersiva/videoperformance (2017)
MÁSCARAS - objetos/instalação (2016)
Analisando o significado do uso de máscaras, especialmente nas sociedades ditas ‘primitivas’ e tradicionais, podemos reconhecer que este objeto, longe de esconder, revela; que retira do rosto a expressão pessoal, mas manifesta o que no dia a dia não se vê; que serve, finalmente, para descobrir um certo sentido do rosto que está além das aparências: aquele sentido em que o rosto vivo e individual faz esquecer e esconder.
As máscaras são narrativas visuais complexas cuja função é dar voz a um personagem. Carregados de mistério e divindades, permitem por um momento ser “o outro” que, com poderes ocultos e inimagináveis, se harmoniza com o grupo, que o acolhe num tempo e espaço determinados pela história cultural.
O objetivo deste trabalho audiovisual é retratar as diferentes faces da máscara em forma de vídeo, instalação e projeção, para provocar a reflexão sobre quantos papéis desempenhados no cotidiano que se distanciam da real essência de cada um. Rael desenvolveu máscaras de inspiração tribal e o grupo se apresentou com elas. Em seguida as máscaras foram expostas em uma instalação imersiva com projeção.
Grupo: Rael, Lilian, Michele, Ronan e Ana.
Passagens corporais
Visão - série de desenhos/mídia mista
Linhas ramificadas feitas de nanquim se entrelaçam como veias de conhecimento, explorando o sistema visual que nos conecta ao mundo. Cada esboço é uma ode à complexidade da percepção, revelando camadas profundas do olho e sua tradução no papel.
As linhas se cruzam e se entrelaçam, imitando o formato e a flexibilidade da íris humana, estrutura que regula a quantidade de luz que entra em nossos olhos.
Através de traços detalhados, a obra “Cristalino” mergulha no mundo do cristalino. Aqui, as linhas se curvam e se contorcem, lembrando uma lente de câmera. Tintas com diversas tonalidades captam a flexibilidade do cristalino, sua capacidade de adaptação a diferentes distâncias. Na terceira obra “Refracção” desdobra-se o sistema de inversão. As linhas quebram-se e dobram-se, como feixes de luz que se curvam à medida que passam através da lente. As curvas e ângulos cuidadosamente elaborados refletem a maneira como a luz se curva e forma imagens em nossa retina, abrindo a porta para um mundo de cores e formas.
Transmitida pelos nossos olhos e interpretada pelo nosso cérebro, a série apresenta componentes que compõem a sinfonia da visão.
Asas de Galho
As asas dos galhos nascem do meu corpo, escapei das limitações da anatomia e da gravidade.
As asas de galho, em sua curiosa criação, personificam a dualidade da natureza humana: a ânsia de escapar das amarras do cotidiano e voar em direção aos horizontes da imaginação. Essa fusão dos elementos orgânicos com a forma humana cria uma conexão profunda, nos conectamos com a natureza, estamos interligados.
O surrealismo presente nesta série de imagens convida o espectador a mergulhar numa metamorfose, numa poesia visual que sussurra sobre a necessidade de deixar ir, de encontrar a nossa própria voz e de voar para além dos limites que nós próprios impomos. A arte se transforma em asas.
Fotografia de estudo de textura
Ângulos
De linhas que seguem fluxos contínuos, saem outras que buscam o caminho. Nesta série de desenhos, a composição pode sugerir o movimento e a exploração da superfície do papel. Pingando em ângulos bidimensionais.
Nesta série de desenhos, as linhas ganham vida e se entrelaçam como galhos de uma árvore, tecendo uma teia de conexões entre o corpo humano e a natureza. O uso da suavidade do grafite e do carvão, com toques suaves de giz pastel branco nas folhas pretas.
O delicado esboço evoca a ideia de um esboço da existência, onde cada linha é uma pista para a complexidade do mundo interno e externo. O corpo humano é retratado como surgindo dos ramos da natureza, sugerindo uma simbiose inerente entre corpo e meio ambiente.
Reflexos na Água:
Pinturas em aquarela sobre vidro – Ramificação dendrítica de rios
A série ilustra conceitos de rios que se desenvolvem como sistemas dendríticos ramificados. As composições exploram a notável semelhança entre os cursos de água e a estrutura dendrítica que se estende como veias na Terra.
Cada pincelada de aquarela se traduz em um reflexo suave no vidro, criando uma sensação de fluidez e movimento. A delicadeza das cores escolhidas – azuis serenos, vermelhos terrosos e tons dourados claros – evocam a tranquilidade e a vitalidade dos rios que serpenteiam pela paisagem. À medida que as cores se misturam na superfície do vidro, consegue-se um efeito quase etéreo, lembrando-nos a fluidez intrínseca da água.
A escolha do vidro como tela para essas aquarelas acrescenta um elemento extra de profundidade. O vidro, com sua transparência e brilho, serve como portal para um mundo líquido em desenvolvimento. A luz que passa pelas aquarelas e pelo vidro parece captar a luminosidade da superfície da água.
Esta série de pinturas transcende a representação tradicional de paisagens aquáticas. Eles não apenas capturam a estética cênica dos rios, mas também a interconexão entre a natureza e os padrões matemáticos que ecoam na arquitetura dendrítica.