RAEL MENDONÇA
Prática, conceitos e métodos
Na minha produção artística, busco explorar as interconexões de estruturas interconectadas que se relacionam com a vida. Em meus experimentos artísticos, observo uma curiosidade intrínseca pela multiplicidade, onde os sistemas se expandem e se transformam continuamente, como visto no conceito de Rizoma, onde as linhas crescem e se conectam dentro da infinita teia da vida.
Nos trabalhos e pesquisas que produzo, uma característica interdisciplinar se torna evidente, onde elementos físicos ou conceituais se relacionam com o mundo externo, constantemente se envolvendo e se conectando.
Eu me esforço constantemente para criar narrativas visuais que possam fomentar o questionamento e a percepção sobre a diversidade de conexões entre diferentes sistemas na natureza, humanidade, virtualidade e tecnologia. Essas áreas, tanto dentro quanto fora do contexto da obra de arte, influenciam umas às outras, expandindo nossa perspectiva em novas direções.
Com um olhar atento ao mundo e suas transformações, trabalho com técnicas manuais como escultura, desenho e pintura, bem como com tecnologias como produção audiovisual, modelagem 3D e realidade aumentada. Esses experimentos são movidos por uma curiosidade paradoxal — tanto empírica quanto científica — onde busco aprender e colaborar com outros artistas, cientistas e intelectuais sempre que possível para expandir o conhecimento e representar, de alguma forma, minha pesquisa, obras de arte e conceitos.
Em relação à materialidade, estou particularmente interessado em botânica e materiais que podem simbolizar uma conexão com a natureza, como texturas em papel, vidro e materiais orgânicos. Sou igualmente fascinado por sua combinação com a eletrônica e novas tecnologias, criando misturas que convidam à reflexão sobre sistemas vivos e constroem pontes sensoriais. Essas narrativas visam, de alguma forma, refletir sobre a complexidade da natureza por meio de pequenas, mas transformadoras percepções.
A escrita também está presente na minha prática artística, tendo gravado meu primeiro curta-metragem "Windows of the Skin", onde fui roteirista e diretor.
Trechos de pesquisa do trabalho de conclusão de curso; - Orientação de pesquisa de Paulo Cheira Sans
Botânica
Todas as espécies encontradas no reino Plantae apresentam ramificações em sua estrutura, nas folhas, galhos e raízes.
As árvores e os fungos são protagonistas das pesquisas realizadas pelos alemães Peter Wohlleben e Suzanne Simard. Os seus estudos revelam que comunicam entre si, partilhando nutrientes, água e carbono, tudo através das suas raízes. Pesquisadores afirmam que esses seres vivos são mais que madeira
esperando para serem cortados e produzirem oxigênio, eles acreditam que possuem características
relações comuns entre outros seres vivos. Para Peter, os processos elétricos nas raízes são semelhantes ao que acontece no cérebro com as sinapses.
“A maneira mais importante de uma árvore permanecer conectada a outras espécies é uma “ampla rede de
madeira" de fungos do solo que o liga à vegetação numa rede íntima que permite a partilha de uma
enorme quantidade de informações e bens.” (WOHLLEBEN, Peter, A vida secreta das árvores, p.3, 2015)
Rizoma
A palavra Rizoma tem significado como substantivo e como conceito. Dado como substancial, provém da botânica, se define como uma razão que cresce em dimensões horizontais, não tem
estrutura central, é a própria estrutura. Se difere da raiz do pivô, que cresce ao redor de um ponto chamado principal. Esta palavra é utilizada conceitualmente pelos filósofos Deleuze e Guatarri com um significado
semelhante à sua ação na natureza. O rizoma se apresenta como um modelo que se ajusta à ética, à estética e à política e sua estrutura principal são linhas de voo. Essas linhas buscam entrar em contato com outras linhas, querem multiplicar, criar agenciamentos.
“Um agenciamento é precisamente esse crescimento de dimensões em uma multiplicidade que necessariamente muda sua naturalidade na medida em que aumenta suas conexões. Não há pontos nem posições em um rizoma tal como se encontra em uma estrutura, em uma árvore, em uma raiz. Só existem linhas” (DELEUZE &GUATARRI, Mil Mesetas I, 1995 p.05)
Em análise, podemos considerar que a obra de arte pode ser entendida como um rizoma pois cria arranjos de ideias e permite a multiplicidade de pontos de vista, o que gera grandeza, se ramificando ao ponto de vista de quem a vivencia.
Embora existam multiplicidades, podemos pensar nesses objetos como os verdadeiros motivadores dessas magnitudes, se você perceber que pode mudar a naturalidade do pensamento de quem percebe a obra.
“Uma das características mais importantes do rizoma é um teste que você tem
sempre múltiplas entradas; ”(DELEUZE & GUATARRI, Mil Mesetas I, 1995 p.08)
O rizoma cresce para onde tenha espaço, em todas as direções, se transforma em todo momento, forma novas relações, se morre em algum momento, nasce em outro, se desprende dos padrões lineares.
“O que está no jogo no rizoma é uma relação com a sexualidade, mas também com o animal, com o vegetal, com o mundo, com a política, com o livro, com as coisas da natureza e o artifício (...) todos os tipos de "devires". (DELEUZE & GUATARRI, Mil Mesetas I, 1995 p.15)